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Avaliações da profissão

Esse texto é fruto de dias de reflexões em sala, dentro do ônibus, metrô, trem, e discussões levantadas na pós graduação que eu faço. Venho refletindo a um tempo em como é difícil ser professor, principalmente em como é dificil sair de uma faculdade de quatro ou cinco anos e se deparar com um salário menor do que de estagiários do ensino técnico (vejo isso nas oportunidades de emprego no cefet química).
Os professores encontram uma infinidade de problemas na sua prática, isso quando eles não são o problema em questão. Vamos dizer que o professor é um cara esforçado, tem uma boa fundamentação teórica pedagógica na sua formação, entende os desafios epistemológicos do que ele ensina (entende que algumas coisas do ensino da matéria precisa ser mudado, e faz isso na sua prática), aprendeu e desenvolveu várias técnicas de ensino, sério, estou falando de um cara que nasceu para ser professor.
Vamos dizer que esse cara começa (como todos começam) dando aula num colégio particular, que num mês paga noutro não necessariamente. O colégio sempre diz que está passando por dificuldades, que os pais estão atrasando mensalidade, enfim.. ah, preciso dizer que ele não tem carteira assinada? Se voce for professor nem preciso né? Mas para os que não sabem, não o professor entra sem assinarem a carteira dele. Tudo bem, no primeiro concurso do estado ou da prefeitura ele estará lá fazendo, se esforçando muito para passar entre os primeiros. E quer saber? Ele vai passar, porque ele é bom de verdade.
No estado do Rio de Janeiro, se você não zerar a prova você entra, são poucos os que resistem à provação de ficar muito tempo trabalhando no estado. Beleza, o nosso amigo muito empenhado assumiu, ficou três meses sem receber (isso é verdade) e enquanto isso foi conhecer a escola que foi resignado. Ficou feliz, alguns recursos estão disponíveis no colégio e ele pode dizer que basicamente para ele, os outros professores são velhos adeptos de apenas cuspe e giz (no estado, quadro branco e caneta).
Suas turmas, bem, na sua lista de presença diz que ele tem em média 50 alunos, aparecem 25 e ele fica feliz porque se os 50 resolvessem aparecer ele ficaria maluco. Como bom professor empenhado que é ele, pensa em fazer um projeto de educação ambiental (apesar do tempo curto, ele continua trabalhando nas outras escolas porque 11,00 a hora aula mata quaquer um de trabalhar). Nos intervalos ele tenta cativar os outros professores a participarem também mas uns simplesmente não querem (normalmente os adeptos do quadro branco e caneta) e outros outros realmente não podem porque trabalham em mais cinco escolas. Enfim desiste de tentar envolvê-los porque os colegas passam a evitá-lo.
Ele então tenta a direção do colégio, a diretora sempre falou que se ele precisasse poderia contar com ela, bom, esse era o momento. A diretora diz que e proposta é ótima, ele fica feliz, finalmente o projeto vai sair né? Mas... (ai essa vai doer) o projeto pede envolvimento do entorno, e sabe como é, tem muita favela aqui em volta e se entrarem e roubarem a escola? O nosso amigo desiste desta, ele ganha muito pouco para ouvir tanto desaforo.
Cansou, vai partir em busca de um outro lugar que pelo menos pague melhor, agora ele entende porque ninguém fica no estado, só os muito acomodados mesmo para suportar isso. Se ele tivesse uma herança, ele podeira ficar e tentar lutar por um salário melhor, mas sem herança, bancando aluguel, comida, plano de saúde e transporte num rola, ele vai ter que buscar outro emprego. Dizem que a prefeitura paga mais, mas será que é assim também? Será que ele vai trabalhar a vida inteira em colégios particulares mantendo o ciclo de só que tem dinheiro pode ter um ensino melhor? (melhor, melhor não sei, mas conteudista com certeza). Será que é isso que o espera?

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Aplicando um teste

Trabalho num colegio como monitora. É perfeito, adoro os alunos e os que vão na minha monitoria me adoram. Hoje no meu tempo com o segundo ano uma surpresa: quase todos os alunos estavam presentes, mas não era por causa da monitoria; estavam fazendo um teste. Alguns alunos do terceiro ano protestaram, queriam usar o tempo para tirar dúvida. Mas não teve jeito, tive que fiscalizar o teste no tempo deles.
Entro na sala para render a monitora de português, os alunos não entendem direito o que está acontecendo mas aproveitam para tentar colar. Rapidamente domino a situação e o silêncio volta. Já tinha substituído um professor naquela turma mas nunca tinha visto tão cheia. O teste era de matemática, mais precisamente de geometria, alguns alunos me olham, a impressão que tenho é que eles estão tentando tirar as respostas das minhas expressões. Já outros não, estào aborrecidos porque impedi que colassem. Passo o olho na prova, coitados se dependessem da minha ajuda estavam na merda. Apesar de licenciada em Biologia e Ciências não tenho vergonha em dizer que sou analfabeta numérica; desde que me reconheço como tal tento mudar isso.
Com o passar dos minutos percebo que alguns já desistiram, estão de cabeça baixa esperando a resposta cair do céu. Começo a analisá-los, as meninas são tão bonitas, os rapazes tão bem apessoados... uma tem porte de jogadora de volei, será que alguém já disse isso para ela? será que o colégio está preocupado em descobrir o que cada um tem de melhor ali dentro? No rosto de cada um a angústia de não saber a resposta; porque essa resposta é tão importante? As formas geométricas não se assemelham em nada com qualquer coisa que eu ja tenha visto por aí... acho que se o professor tivesse colocado o símbolo do Mc Donalds teria feito mais sucesso.
Mas indiferente da forma, eles estão ali tentando resolver os problemas; talvez seja a pressão de estudar num colégio caro demais, ouvir todo dia dos pais que tem tirar boas notas senão vão ser tirados do colégio, talvez, talvez. Acabo de trocar um aluno de lugar, estava tentando colar do colega, será que colar compensa? será que ele sabe que está principalmente se enganando se estiver colando?
Um aluno que estava me olhando muito foi embora, eu não tinha a resposta. O ar condicionado me congela, não faz qualquer sentido ele estar ligado, não está quente e todos os alunos estão de casaco. Será que esse consumismo desenfreado não vai acabar nunca? Os alunos começam a sair em bandos, isso é muito interessante, dápara separar cada grupinho da turma por afinidade.
Já com a sala vazia percebo que o menino que estava deixando ser colado é o que está fazendo o pré militar; seria estratégia dele deixar o outro colar para eliminá-lo mais fácil da concorrência?
De repente me pergunto se eles tem aula com o professor que ganhou medalha nas olimpíadas mundais de matemática, será que o teste está no mesmo nível dos competidores dele nas olimpíadas? segundo o que vejo dos desenhos sim...
Uma aluna sai e diz para os seus colegas boa sorte; será que o que eles precisam é sorte? pensei que era matemática.
Meu tempo acabou, passei a bola para a monitora de história; me senti numa indústria nesse momento.